
A relação do ser humano com a água é natural e profunda. Embora não sejamos animais aquáticos, o contato com a água começa ainda na barriga, quando o bebê está na bolsa amniótica, envolto em um líquido repleto de nutrientes. Para algumas pessoas, esse vínculo não termina com o nascimento — pelo contrário, pode se intensificar ao longo da vida.
Denisson Rogério dos Santos, conhecido como “Deno Rocha”, é um exemplo desse vínculo. Com 30 anos, o surfista que salvou uma banhista que se afogava na Praia do Francês, em Marechal Deodoro, recorda que sua conexão com o mar começou aos seis anos de idade.
“Eu surfo desde os seis anos. Aqui na Praia do Francês, a gente brinca que todo mundo é pescador ou surfista. Eu escolhi o surf, mas tenho familiares que são pescadores. A minha vida é essa. Sou atleta, participo de competições profissionais e também sou professor de surf há cinco anos”, conta Deno.
Na última sexta-feira (22), enquanto observava o mar e conversava com amigos sobre as ondas, Deno ouviu gritos de socorro de banhistas. Ele explica que, embora os bombeiros estivessem próximos, tiveram que retornar à base, o que o motivou a agir imediatamente.
“Quando eles chegaram à base, aconteceu o afogamento. Eu nem tinha visto a vítima ainda, mas os amigos começaram a gritar e apontar onde ela estava. Foi nesse momento que peguei o bodyboard e fui em direção a ela. Ela se manteve calma o tempo todo, o que foi fundamental. Eu gritei para ela manter a calma e avisei que estava chegando”, relata Deno.
Após o resgate, Deno descobriu que a mulher é médica pediatra. Amigos da vítima enviaram mensagens contando que ela salva a vida de muitas crianças. “Fiquei muito feliz em saber que ajudei alguém que, diariamente, salva a vida de outras pessoas”, disse o surfista. O nome da médica não foi divulgado.
Este não foi o primeiro resgate realizado por Deno. Segundo ele, embora placas alertando sobre o perigo sejam comuns na região, algumas pessoas acabam ignorando os avisos.
“Certa vez, salvei uma mãe e uma filha, e foi muito gratificante. Já ajudamos muitas pessoas, e o projeto Surf-Salva é muito importante, pois permite que nós, surfistas, façamos parte desse processo e sejamos incluídos nas ações de prevenção e salvamento”, afirma Deno Rocha.
Surf-Salva
O projeto Surf-Salva, promovido pelo Corpo de Bombeiros Militar (CBM), é gratuito e tem como objetivo aproximar os surfistas da corporação, capacitando-os para agir em situações de afogamento.
Segundo o tenente Alexandre, coordenador da área pedagógica do projeto, “a finalidade é qualificar os surfistas para que possam salvar alguém no meio aquoso. Eles aprendem técnicas de abordagem e orientação, conseguem identificar uma possível vítima. Quebramos o paradigma existente e aproximamos os surfistas de nós, mostrando que estamos aqui para ajudar”.
O militar destaca que qualquer pessoa pode participar do curso e que a prevenção é a melhor forma de evitar acidentes. “É um curso prático, simples e importante. É aberto ao público, tanto para banhistas quanto para a comunidade em geral”, explica.
Alexandre ressalta ainda um problema cultural que prejudica a segurança. “Infelizmente, a cultura brasileira é muito difícil. Em alguns locais do estado, quando colocamos a placa de alerta, o barraqueiro vai lá e tira, achando que espanta clientes. Mas essas placas existem para proteger as pessoas”, afirma.